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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quando vier a Primavera...

o que há de melhor que um poema acompanhado de uma pessoa linda o resitando?

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro 
 
By Sté
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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Faça uma mulher feliz



Se um dia você encontrar num jantar aquela mulher que um dia fez parte de sua vida, seja extremamente delicado, sobretudo se o caso acabou por culpa sua. Comece olhando para ela com ar de imensa surpresa e alegria, muita alegria (mas que fique claro que é uma alegria mesclada de saudade). E que seus olhos brilhem de felicidade ao vê-la.
Comece dizendo que ela está mais linda do que nunca; pergunte pela vida, refira-se a detalhes do passado, tipo "e aquele quadro que você tinha, nunca vi tão lindo"; depois vá entrando, lenta mas gradualmente, em assuntos mais pessoais. Pergunte pela empregada (pelo nome), lembrando de um prato maravilhoso que ela fazia, e depois diga que tem saudades do gato. Ponto: você já arrasou.
Não deixe de notar que ela está diferente, com o cabelo mais curto e mais claro (mulher a-do-ra isso); pergunte depois se ela continua achando graça em cozinhar e acrescente que nunca mais comeu uns ovos mexidos como os que ela fazia. É claro que essa indagação pressupõe o desejo de saber se ela algum dia pôs os pés na cozinha depois dos tempos em que vocês se amavam, e se ela der a entender que nunca mais, é quase uma confissão de que em sua vida (dela) nunca mais houve um homem como você. Bom, não?
Mais tarde, quando estiverem a uns oito metros de distância, olhe para ela como se fosse a primeira vez que a estivesse vendo; olhe fixamente e continue olhando até ela perceber. Nesse momento, dê um sorrisinho muito discreto e totalmente cúmplice, daqueles que só vocês dois vão entender. Se estiver com um copo na mão, erga-o (não mais do que dois centímetros), como se estivesse brindando ao passado (ou ao presente ou ao futuro, nunca se sabe), para ela morrer de felicidade.
Durante a noite, não chegue muito perto: nada mais obsceno do que uma paquera vencida. Um ex deve deixar claro que aquela mulher tem um lugar especial em sua vida, mas guardar uma certa distância, sem fazer jamais a gracinha de tentar qualquer aproximação física, nem para ajudá-la a levantar, se ela tropeçar e cair. O clima deve ser de quase cerimônia e de um certo medo, medo de um choque elétrico se por acaso as peles se tocarem -isso sem que uma só palavra tenha sido dita. Emocionante, não?
Nessa noite, um sacrifício em nome dos velhos tempos: fique longe de qualquer mulher, nem que uma dessas deusas que só namoram playboys ricos te mande um torpedo. Fique longe dela (ELA), mas não a perca de vista um só instante. É preciso que a cada vez que ela olhar você a esteja olhando, não como se estivesse se matando de saudades, mas lembrando dos velhos tempos, de como nunca mais encontrou uma mulher que se comparasse a você, ah, como foi idiota.
E prepare-se para o grand finale. Trate de ir embora antes dela, para dar a impressão de que a festa não está interessando, que nada no mundo pode interessar, sem ela perto. E quando for se despedir, na hora de dar aqueles dois beijinhos tão civilizados, sussurre em seu ouvido "Você foi a mulher de minha vida".
Mesmo que não seja verdade.

Danuza Leão

By Sté

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Talvez a pior das palavras



Um fim de caso - quem nunca passou por isso? Casos costumam acabar: ou se abandona ou se é abandonado, e as duas hipóteses são penosas e dolorosas. Qual a pior? As duas são péssimas, pois ninguém pode imaginar, enquanto o amor existe, que ele um dia pode morrer. Deixar quem já foi tanto em nossa vida é horrível, e ir levando, sem vontade, pior ainda. Como dizer ‘não quero mais você’? Como dizer que prefere ser infeliz sozinha do que continuar com ele, já sabendo que não vai dar? Se despedidas são sempre difíceis, imagine dizer adeus a um homem que você amou, com quem dividiu a cama e os sonhos. É muita crueldade, e ninguém gosta de ser cruel. A crueldade só se justifica em circunstâncias muito especiais e por justíssima causa: se ele tiver nos deixado por outra, por exemplo. Ser deixada é difícil, sobretudo para as que nunca imaginaram que isso poderia acontecer. Aliás, não imaginaram, não: só não quiseram ver. Não é preciso ser a rainha da inteligência para perceber quando as coisas começam a mudar, e quando a certeza chega, o melhor é respirar fundo e sair antes, para preservar pelo menos o amor próprio. Mas se você prefere achar que é só uma crise, é bom estar preparada para o que der e vier -e que costuma vir. Quando mulheres são deixadas, é sempre igual. Se ele sumir, ‘ah, mas que cafajeste’; se disser ‘não estou mais a fim’, só trucidando, e se concluir com um ‘vamos ser amigos’, só matando. E todas as abandonadas acabam dizendo sempre a mesma coisa: ‘tudo bem, mas não precisava ser daquela maneira’. Como se houvesse maneira certa de acabar um caso. Mas quem é deixado precisa aprender a se defender, e o tipo de desfecho está em suas mãos. Ele começa a ficar vago e um dia diz que precisa de um tempo? Pois responda, de bate pronto, que ele tem razão, até já havia pensado nisso, emendando imediatamente com um ‘preciso sair voando, tenho hora marcada para discutir um trabalho novo, outra hora a gente se fala, tá?’. Esse texto deve ser dito num tom ameno e tranqüilo, seguido de um tchau e um beijinho no rosto, daqueles que só se dá numa amiga de quem se gosta muito. Deixe para chorar depois, quando estiver sozinha e com o telefone fora do gancho. Pense: se fizer uma grande cena, ele vai achar você uma chata, o que não é nada bom. Na hora em que um homem começa a dizer, meio sem jeito, que andou pensando e tal e coisa, é porque já acabou. Quem insinua que quer ir já foi. Tente pensar que aquela pessoa com quem viveu momentos tão bons tem o direito de tentar ser feliz, mesmo que essa maneira seja sem você. Seria de grande generosidade, mas é difícil, eu sei; impossível, eu diria. Amores podem ir e vir, sobretudo quando os novos não dão certo, e tudo pode acontecer, até mesmo um dia ele querer voltar. E se você não resistir e cair nos braços dele, em pouco tempo estará querendo se matar, quando ele te deixar de novo. Mas se o coração ainda estiver doendo muito, mesmo morrendo de vontade, diga um belo não, com um lindo sorriso, e vai ter um dos maiores e inesquecíveis prazeres da vida. Aliás, melhor ainda: faça bastante charme e dê muitas esperanças, para que ele fique bem enlouquecido. Não há nada melhor do que enlouquecer um homem que nos deixou.

Danuza Leão
By: Drê 



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